quarta-feira, agosto 01, 2012

Damião, o Leproso.




Após ter lido o livro "Damião, o Leproso" escrito pelo australiano John Farrow; conhecido como roteirista hollywoodiano, diretor de filmes e produtor; fui contemplado por uma imensa onda de um sentimento sincero do que é a vida. Faz muito tempo que não sinto essas coisas vindas de algo relacionado a arte em geral e principalmente livros. Foi através dessa biografia que voltei a ter uma admiração pela vida, pois através de obras como essa que consigo visualizar o propósito de viver. Passei admirar muito o seu dom de escrita com características de um verdadeiro contador de histórias, daqueles que ficam perto de uma fogueira e que o faz ser transportado e penetrado em um mundo cheio de cores e emoções. Foi exatamente o que senti ao ler esta biografia, contada com tanta perspicácia fazendo-me chorar, emocionar e amar mais ainda esse abnegado apóstolo, missionário e bem aventurado Damião José de Veuster.

A seguir escrevo com minhas palavras as partes que ficaram grafadas em minha alma, e com outras que se quer ousei escrever por mim mesmo, portanto, retirei do livro, pois fez muito mais sentido colocá-las aqui, que foram tão nobremente escritas pelo meu colega australiano.

É importante para quem estiver lendo, saber da história verídica de Damião, pois se não conhecer, sugiro que leia antes um pouco de sua biografia para posteriormente adentrar novamente nesse post e conhecer um pouco mais da vida heróica de José de Veuster.

Segue o relato de sua chegada a ilha de Molokai, que é uma das ilhas do arquipélago havaino.



Antes do missionário Damião chegar a ilha não havia relatos de como era a vida e a situação dos leprosos que habitavam-na. O que se houvia falar que era extremamente necessário alguém que pudesse colocar ordem a um local sem lei e onde se praticavam as mais terríveis iniquidades. No livro, o escritor relata que após o Padre chegar a ilha, de certo, houve um espanto misturado com um susto lúgubre em relação a aparência dos contagiados em estágio avançado, conta-nos Farrow que muitos deixaram de ter rostos, e no lugar dos olhos, haviam pus; no lugar do nariz, chagas abertas, infectas que se estendiam até os lábios apodrecidos. "As orelhas, inchadas até o dobro ou triplo do seu tamanho normal, pendiam como massas disformes ou se haviam corroído até quase desaparecerem. As mãos tinham perdido os dedos e alguns braços não passavam de cotos, os pés e as pernas eram igualmente repulsivos e os corpos da maioria dessas pobres criaturas estavam inchados aqui e deformados acolá, sem nunca preservarem a forma natural". Essa só foi a primeira impressão dos enfermos, as piores ainda estavam por vir, muitos não careciam nem de membros para poderem ficar em pé, pois já estavam comidos pelos vermes. As crianças e as mulheres sentadas à frente de suas cabanas sem rostos com uma vibração de extrema tristeza; as crianças só possuiam o tamanho para poder indicar que eram, mas na verdade, pareciam anões com rostos dilacerados e uma "solenidade pouco infantil". "As palhoças eram primitivas e ofereciam pouco abrigo, pois na sua maioria estavam feitas de ramos desgalhados apoiados uns nos outros, com uma desleixada cobertura de sapé". E não houve nenhuma recanto desta Aldeia que não foi visitado por Damião no mesmo dia de sua chegada. Palavras do Padre em uma de suas cartas: "Quase todos jaziam prostrados nas suas camas, em cabanas de sapé úmidas. O mau cheiro dos dejetos, de mistura com o fedor das feridas, era simplesmente esmagador,insuportável para um recém-chegado. Muitas vezes, nas minhas visitas a essas choupanas, tive de sair às pressas para respirar ar puro". Não demorou muito para o sarcedote perceber que grande parte dessa situação crítica era a falta crônica de água. Os habitantes não careciam de água corrente, e quando dispunham, raramente usavam-a para lavar suas cabanas, ou as chagas provocadas pela doença, pois a necessidade faziam que só dessem sua atenção à sede. Além de tudo careciam também da obra e graça dos que estavam menos atingidos pela doença a buscar a água, pois os locais que achavam água ficavam longe da vila e quando trazido eram em latas ou garrafas velhas.



"O sacerdote raciocinou que, onde havia montanhas altas, deveria haver também riachos ou fontes; como os nativos não sabiam dizer-lhe nada, decidiu explorar o lugar por conta própria, e acabou por descobrir um reservatório natural no fundo de um vale chamado Waihanau. Era um poço circular com mais de vinte e cinco metros de diâmetro, e uma sondagem rápida mostrou que tinha cerca de seis metros de profundidade; ou seja, era suficientemente grande para não se evaporar num período normal de estiagem."

Havia-se criado um cargo de "superintendente" na ilha ao qual era um leproso. Este era incenssamente persuadido pelo padre a bombardear o Ministério da Saúde quanto as reais e urgentes necessidades do povo enquanto ele mesmo gerava uma avalanche de relatório inplacáveis de queixas. Nas cartas o missionário pede que lhe fosse enviado canos, materiais de construção, remédios e um médico. O pedido foi negado, mas o sarcedote não desistiu e mais tarde vocês vão ver que nem mesmo diante da morte pensou se quer em parar de trabalhar tão avidamente pelo seu "povo". "O primeiro resultado da sua tenacidade chegou sob a forma de uma remessa de canos e adutoras hidráulicas trazidos a bordo da escuna Warwick. Não havia nenhum engenheiro ou mesmo encanador acompanhando a carga, mas Damião, vendo já em imaginação a água jorrando na aldeia, pouco se importou e foi de cabana em cabana à procura de homens suficientemente fortes que se dispusessem a carregar os canos e colocá-los em posição". Não foi fácil convercer os habitantes, mas não é difícil imaginar que a doença os deixavam descrente, apáticos e abatidos de tanta preguiça, mas conta-nos o escritor que era impossível negar a grandes discursos lisojeantes que o Padre recitava relatando-lhes a importância do trabalho. O padre também pediu ajuda aos marinheiros que vieram trazer a carga e com mesmo discurso conveceu todos que estavam a bordo, inclusive o capitão, que inclusive mais tarde, este capitão, após conhecer mais profundamente o sarcedote, será um dos maiores admiradores de Damião em que a amizade dos dois compõe uma linda parte dessa hitórioa real cheia de cores e de heroísmo". Bem-humorado, o Oficial deixou-se convencer, e pouco tempo depois uma turma de marujos armados de talhas e cabos ajudava os leprosos a colocar os canos em posição, enquanto o padre e o capitão, servindo-se da areia da praia como prancheta, traçavam os pla- nos para o novo sistema de água encanada". O padre supervisionou todo o trabalho e com suas próprias mãos colocava as enormes manilhas. A topografia do local era bem acidentada e Damião apenas contava com sua memória para orientar-se nos detalhes da construção. "Ao fim de alguns dias de esforço hercúleo, um jato ininterrupto de água fresca jorrava no meio da colônia, como demonstração irrefutável de que o sistema funcionava. Instalaram-se torneiras a distâncias regulares, ao alcance das cabanas, e os leprosos descobriram atônitos que dispunham agora de toda a água que quisessem, não apenas para beber, mas para todas as necessidades domésticas. De repente, as longas e cansativas peregrinações até à fonte tinham-se tornado desnecessárias, e uns olhares agradecidos e repletos de uma admiração nova começaram a saudar aquele missionário cuja caridade tinha aspectos tão surpreendentemente práticos".

Texto retirado do livro de John Farrow.

A NOVA VILA

Apesar do fracasso junto às autoridades, a viagem a Honolulu foi um sucesso. O bispo levantou fundos para a compra de ferramentas e material de construção, e até o Ministério da Saúde, submetido à pressão da opinião pública, acabou por enviar um carregamento de madeira.

As boas notícias que trouxe ao voltar a Molokai desencadearam uma onda de entusiasmo entre os leprosos. Todos os que tinham condições de trabalhar apresentaram-se para colaborar na construção da nova aldeia. Os homens, a muitos dos quais faltava pelo menos um membro, arrastavam ou carregavam a madeira para locais previamente roçados e carpidos pelas mulheres e crianças. Descobriram-se alguns colonos com conhecimentos de carpintaria, que da noite para o dia se encheram de brios e em pouco tempo encheram os ares com o som industrioso dos martelos e das serras. As novas cabanas eram sólidas e levantadas sobre fortes estacas, de modo a resistirem às tempestades; foram alinhadas em fileiras regulares e, à medida que se terminavam, iam recebendo uma mão de cal.

Esqueceram-se as tristezas e misérias sob a embriaguez do trabalho. Homens que se haviam resignado a esperar a morte numa inatividade patética revelavam agora um novo interesse pela vida, e em breve esse lugar, onde o riso fora esquecido e onde cada qual estava abandonado à sua própria sorte, enchia-se das gargalhadas das equipes de construção que se desafiavam mutuamente, para ver qual delas conseguiria acabar uma cabana em menos tempo.

Por fim, construiu-se também a sua própria casa, uma cabana de um único cômodo, como as outras. Com uma coragem que podia parecer temeridade, quis erguê-la nas proximidades do cemitério. Podemos perguntar-nos por que insistiu em escolher para si aquele lugar poluído, ele que sempre exigira para os seus leprosos abundância de ar puro e boas condições higiênicas; mas havia uma razão prática para isso, e era que passava boa parte do seu tempo ali, pois não somente oficiava os en- terros, como fabricava os caixões e desempenhava as funções de coveiro...

À medida que a aldeia foi adquirindo vida nova, o sacerdote passou a incentivar os moradores a cultivarem as suas hortas. Cada cabana recebia um pedaço de terra anexo que devia ser limpo e plantado com hortaliças e flores. Essas reformas e melhoramentos estenderam-se em breve à vizinha aldeia de Kalaupapa, que também fazia parte da colônia. Damião corria de uma para a outra, exortando e animando, para que a chama do entusiasmo não esmorecesse. Não fosse ele quem era, ter-se-ia deixado absorver completamente por essa atividade de direção administrativa, dispensando-se de qualquer esforço físico; mas, a não ser nos momentos em que atendia aos seus deveres sacer- dotais, ninguém jamais o viu sem um martelo na mão, ou uma plaina ou outra ferramenta qualquer. Calcula-se que colaborou na construção de nada menos que trezentas das primeiras casas da nova colônia.

Outro problema que teve de enfrentar foi o da alimentação. O plano original do governo era que os leprosos cultivassem a terra e produzissem o seu próprio alimento, mas, depois do desastroso fracasso dessa espantosa idéia, uma pequena escuna passara a levar à colônia, a intervalos irregulares, provisões que por ocasião do embarque estivessem disponíveis a preços baixos no mercado de Honolulu.

Ora bem, uma criteriosa seleção dos alimentos é essencial para o bem-estar de qualquer doente, mas em nenhum momento se fez qualquer esforço nesse sentido, além de que as quantidades enviadas costumavam ser clamorosamente insuficientes. Por outro lado, a comida muitas vezes era descarregada em botes deixados à deriva na esperança de que chegassem por si próprios à praia, e em mais de uma ocasião se "presenciaram verdadeiras tragédias: um bando de leprosos esfomeados tinha ác observar da praia, impotente, como a sua única fonte de suprimentos era tragada pelas ondas de um mar encapelado.

Essa era a situação quando Damião chegou a Molokai, e também neste campo a mudança não demoraria a fazer-se notar.

Graças às suas cartas, aumentou-se o volume dos suprimentos enviados e um vapor com escala regular passou a substituir as visitas ocasionais da velha escuna. Mesmo assim, o sacerdote nunca chegaria a sentir-se plenamente satisfeito com os resul- tados obtidos: até o fim da sua vida, esta seria uma das principais causas da sua infindável controvérsia com as autoridades. Cinco anos depois da sua chegada, continuava a clamar: "Mandem mais alimentos", e dez anos mais tarde ainda solicitava "o luxo de um pouco de leite".

Roupas, ligaduras e remédios eram outros tantos itens que constavam regularmente dos seus volumosos relatórios e pedidos. Muitas vezes teve de reiterar que os leprosos, cuja resis- tência já naturalmente se encontrava combalida, vinham morrendo não tanto por causa da doença como de outras infecções secundárias. Nesta frente de batalha, obteve a sua primeira vi- tória quando o governo lhe enviou uns suprimentos médicos básicos, suficientes para abastecer duas pequenas farmácias, uma em cada aldeia.

Com o tempo, puderam também vender-se na ilha umas roupas simples, e cada leproso passou a receber dos cofres pú- blicos a generosa pensão de seis dólares por ano para comprar um mínimo de roupa. Damião protestou contra essa quantia mesquinha, mas não pôde deixar de alegrar-se porque esse subsídio, por mais insignificante que fosse, marcava um novo ponto de partida. Junto com os donativos enviados pelo bispo e pelas freiras, essa verba permitiu que os leprosos deixassem de andar seminus e pudessem vestir-se com uma certa decência. Outra das reformas que teve em vista desde o início foi a do "hospital", um telheiro a ponto de desabar que na prática servia apenas como "depósito de moribundos": era lá que se abandonavam os leprosos sem família ou amigos, para morrerem como pudessem^ Damião reconstruiu o edifício, instalou catres, persuadiu alguns dos leprosos menos afetados a trabalhar como enfermeiros e ele próprio assumiu o papel de médico, lavando e vendando diariamente as feridas dos internados. É comovente
observar que até 1887, isto é, até dois anos antes da sua morte, reservou para si essa tarefa particularmente repugnante. multidão de coisas a fazer que continuamente lhe "puxavam da manga", conseguiu construir "mais uma capela na outra extremidade da colônia [em Kalaupapa], a uns cinco quilôme- tros de distância daqui". Como é óbvio, mais uma vez assumiu as funções de engenheiro, carpinteiro e peão de obra. Numa carta aos pais, escrevia: "Não me envergonho de fazer de pe- dreiro ou carpinteiro, se é para a glória de Deus. Nos dez anos que já passei nesta missão, construí uma igreja ou capela por ano. O costume que tinha aí em casa, de fazer um pouco de tudo, foi-me imensamente útil aqui".

As cerimônias litúrgicas tornaram-se uma espécie de evento social na colônia. Atraíam um número crescente não só de católicos, mas também de protestantes e não-cristãos, pelo es- plendor do rito e pela beleza da música; com efeito, além do seu significado religioso, constituíam a única fonte de entrete- nimento de que os leprosos dispunham. Reconhecendo a importância desse aspecto, Damião observava minuciosamente os detalhes do ritual, celebrava a missa com a maior solenidade, e a freqüência à igreja cresceu tanto que pôde escrever a mons. Maigret:

"Espero que Vá. Excia. Revma. se alegre de saber que, desde o momento em que o deixei até o dia de hoje, houve uma profunda transformação no estado de espírito desta população. Já por três domingos consecutivos mal vem havendo lugar na capela para os meus fiéis, cristãos e catecúmerTos. Ontem fui obrigado a pedir aos que assistem à missa diariamente que se colocassem do lado de fora, junto às janelas, os homens de um lado e as mulheres do outro. Mais de trinta pessoas ficaram lá fora, e mesmo assim o interior estava tão apinhado que praticamente ninguém se podia mexer.

"Cada semana tenho batizado de seis a doze neófitos. Além da missa, os fiéis assistem a umas reuniões que organizamos nas tardes de domingo para os doentes; nessas ocasiões, somente em Kalawao, quatro ou cinco residências ficam lotadas a ku mawaho, até transbordarem; são presididas pelos meus luna, os meus catequistas.

"Quanto a mim, depois da missa e dos batismos, tomo o desjejum e vou a Kalaupapa, onde tenho três reuniões diferentes: uma com os cristãos não-leprosos mais antigos do distrito, outra com os doentes que moram perto do ponto de desembarque e a terceira com os que moram na parte alta da aldeia; estes últimos são mais ou menos uns trinta. "Ainda não achei um momento apropriado para ausentar- -me da colônia. A visita semanal a todos os meus paroquianos doentes consome a maior parte do meu tempo. Na próxima semana, porém, espero poder visitar o resto da ilha, isto é, se já estiver curado de um pé que está um pouco inchado por causa de um ferimento. "É-me difícil dizer o que é mais urgente: por um lado, a capela de Kaluaha é absolutamente necessária, embora não saiba se poderei construí-la eu mesmo, porque teria de ficar muito tempo longe dos meus paroquianos moribundos de Kalawao; por outro, é preciso ampliar pelo menos em três metros a igreja de Santa Filomena, como os fiéis me têm pedido com insistência [...].
De um modo ou de outro, he mea lealea no u wa hana kamana, a verdade é que me agrada o trabalho de carpinteiro".

Efetivamente, esse era o seu único passatempo: os raros momentos de lazer que conseguia, gastava-os construindo molduras para janelas, portas e pequenas peças de mobiliário, que depois distribuía entre os que mais precisassem.

José Teles Andrade

Nota: Todas as fotos foram retiradas da internet.

quarta-feira, julho 11, 2012

Encontro marcado

Um pacote vazio
Não quer dizer "sem conteúdo"
E desistência
Não quer dizer "sem vontade"

Na esperança de voltar a me achar
Sou cercado por uma crise de meia idade

Não sou ancião
Mas são tempos de transição:
Do velho para o novo
Do mal para o bem
Do pesado para o leve

E nessa fase
As interpretações estão em contraste:
Em decisões sem ocasiões
Trabalho
Tarefas
Atarefado!

Assim, atordoado
E levado sem ser perguntado
Chego ao cume da consciência

Encaro-a bem
Ela me olha diretamente
No espelho d'alma
E diz: "Rapaz, tenha calma"

José Teles
12/07/2012